segunda-feira, 22 de julho de 2019

Costurar: um ato de resistência


Eu estava escrevendo os posts sobre como renovar peças de roupas antigas e comecei a pensar como eu era antes de aprender a costurar.

Eu já comentei algumas vezes aqui no Landscape sobre o dia que eu decidi que eu aprenderia a costurar.  Eu decidi aprender a costurar no dia que eu não encontrei uma calça jeans do jeito que eu queria, no Centro do Rio.  Eu queria uma calça com lavagem escura, reta e com cintura não tão baixa e tudo o que eu encontrei naquele dia foi o oposto ao que eu procurava.

Na época, eu já bordava há mais ou menos três anos, então, linhas e agulhas não eram instrumentos estranhos para mim, mas naquele dia, sem perceber, eu havia decidido não apenas a costurar uma calça, eu havia decidido escolher o que eu queria vestir.  

Eu demorei anos até costurar a minha primeira calça jeans, mas o que eu não percebi no decorrer desse processo foi como a costura mudou a minha relação com a minha forma de me vestir.  Antes, eu não me preocupava em cuidar das minhas roupas.  Eu lavava as peças, mas eu não me preocupava se aquele tipo de lavagem iria estragar a roupa com o passar do tempo.  Se eu não gostava de uma peça, eu simplesmente descartava. Na hora de comprar uma roupa nova, eu sempre preferi o preço ao material. Muitas vezes eu comprava uma peça pelo preço mais em conta e depois não a usava, seja porque ela não vestiu bem, ou não era algo que eu realmente gostasse.  Mesmo pagando um preço mais barato, hoje eu percebo como eu desperdicei tempo e dinheiro comprando apenas por comprar.


Costurar me ensinou a apreciar a roupa que eu visto. A ver que por trás de cada peça existe uma pessoa que a costurou e perceber isso mudou tudo para mim.  Além disso, eu passei a exigir mais. Antes de comprar uma peça, eu olho de que material ela foi feita e penso se o preço corresponde ao material e a mão de obra que estão sendo cobrados.  Eu passei a procurar por peças que eu goste de verdade e a não me contentar em usar o que está “na moda”. Eu passei a comprar muito menos roupas e nunca me senti mais bem vestida como agora.

Vestir roupas costuradas por mim passou a ser um ato de amor e uma forma de resistência!  Uma forma de me conhecer melhor, de não aceitar a pagar mais do que realmente é necessário, uma forma de escolher o que eu quero ou não usar, escolher a forma de como e quando eu quero consumir. 

Costurar minhas próprias roupas me fez pensar mais sobre o lixo que eu produzo e como eu posso tornar o mundo um lugar melhor.  Costurar me ensinou a compartilhar um pouco mais daquilo que eu sei com as pessoas sem pensar no que eu poderia receber em troca e me ensinou a ter mais paciência comigo mesma e com os outros. 

Num mundo tão cheio de estímulos, coisas e onde tudo muda tão depressa, aprender uma técnica tão antiga, que começou a ser ensinada para mim pela minha avó é incrível!  Por isso, eu sou uma enorme entusiasta dos trabalhos manuais, de desenhar com caneta e papel, de bordar. Hoje eu sinto muito orgulho de usar uma roupa costurada por mim e mostrar para o mundo um pouco da beleza por trás do trabalho manual.

Para mim, costurar é um ato de resistência! 

Então, qual é o seu ato de resistência?

Até a próxima,

Thaís

Para saber mais:


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